Rosângela Trajano

Nasce uma estrela sempre que se escreve uma poesia

Textos

Mamãezinha querida do meu coração hoje é o seu dia. Dona Iracema, Irá, vovó Cema, vovó do mal e tantos outros apelidos que lhe deram ao longo da sua vida, contam hoje idade nova. Você que veio da cana-de-açúcar, da terra barrenta, das cacimbinhas, das lagoas e das igrejas. Você que corria campo afora num mundo infinito. Você que teve tudo para ter lembranças de uma infância sofrida, mas só me conta coisas lindas sobre ser criança. Você que vendia vestidos de bonecas para comprar comida para casa. Você que brigava com todo mundo por um mundo mais justo. O que dizer de você, mamãe? Exemplo de mulher batalhadora, guerreira, feminista e cheia de valores e virtudes morais. As palavras me fogem da alma. O cheiro de café na cozinha me acorda todas as manhãs, o cheiro de roupa limpa, o banheiro sempre limpinho, a roupa passada, seus sapatos novos largados num canto porque lhe fizeram calos nos pés, logo você que estava enamorada dos seus belos sapatos. Ah! Mamãe, não faltam histórias para contar nesses seus 72 anos de vida. Quer que eu fale do homenzinho do botijão de gás que a senhora deu apenas R$ 0,50 centavos para ele trocar e ainda achou muito? Ou quer que eu fale da sopa de Tonho e João? Mamãe, você é uma menina peralta. Seus netinhos morrem de medo da senhora, porque não podem fazer nada errado que logo são chamados atenção. Este ano lhe deixaram sem seu relógio chique, porque ele resolve quebrar sempre ao meio-dia. E o homenzinho do conserto não consegue resolver esse problema. Seu relógio deve está sentindo falta de almoçar. Ah! Mas hoje só eu sei que a senhora vai encher o bucho de feijão, porque é seu prato preferido. Mamãe, fazer 72 anos não é para todo mundo. Precisa ter muita saúde e disposição para viver. Você que anda mais do que um corredor de maratonas, e nunca para em casa. Está sempre no mundo e quando está em casa todos acham estranho. Até parece que vai chover. Você que com coragem derrubou a sua casinha velha e construiu uma nova. Oh! Mulher corajosa. Não tem medo de bicho-papão e nem de mula-sem-cabeça. Você que foi no posto de saúde três vezes pegar uma ficha para o seu netinho homem que lhe pediu um favor. Reclame não que dona Iracema não gosta. Irá a amiga de todo mundo. Vovó Cema que tem os netinhos mais comportados do mundo na sua casa. Mamãezinha que limpa meu quarto quando dou as costas. Como conceituar uma mulher tão maravilhosa? Que adjetivos usar? Ela quis ser princesa dos contos de fadas, mas assim como a Gata Borralheira, sofreu e saiu das cinzas para a vida. Essa mulher que convive comigo dia e noite me ensina que temos que poupar dinheiro para não faltar. Querem saber o que ela fez outro dia? Só porque o banco cobrou uma pequena taxa da conta dela, foi lá e falou com o gerente que não retirasse todos os benefícios da sua conta. Deixou o gerente do banco em espanto. O homenzinho sem entender nada disse “mas logo agora em tempos de crise a senhora quer ficar sem nada?”. Mamãe, mamãezinha a senhora vale ouro. A sua luta com a minha televisão finalmente acabou. Agora muda os canais pra lá e pra cá. A sua luta com a máquina de lavar também parou. Agora lava roupas até de madrugada. A vovó do mal que não deixou a netinha trazer o namorado na sua casa, porque não gostou do jeito do rapaz. A vovó Cema que dá carão no netinho que mora em Macaíba e ele só escuta quietinho, calado, cabisbaixo. E o danado do menino ainda tem coragem de pedir-lhe um favor. O tempo passa e você continua a mesma mamãezinha. Não mudou em nada. Apenas com a cabecinha branquinha e as pernas finas de fazer dó. Mas essas pernas finas sobem e descem ladeira numa ligeireza que não tem quem pegue. Eu perto da senhora sou uma coisinha de nada, não sou ninguém. Tenho orgulho de ser a sua única filha mulher, de ser a sua filha cheia de inspiração e poder escrever coisas lindas para as pessoas fruto do seu ensinamento desde a minha infância. Mamãezinha depois deu escrever tantas palavras bonitas para a senhora pode me emprestar R$ 50,00 sem me cobrar juros? Porque os seus juros estão muito altos e eu não tenho dinheiro para lhe pagar tudo o que devo. E me faça um favor: abra a sua barriga e me coloque lá dentro de novo, porque esse mundo aqui fora tá muito cruel para se viver. As pessoas não são iguais a senhora, cheias de dignidade, humildade e carinho. Feliz aniversário, mamãezinha querida! Que seu dia seja de muita luz, saúde, amor, paz e esperança. Um abraço da sua filha, dos seus filhos, netos, bisnetos, familiares e amigos de perto e de longe.
Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 11/01/2020


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